sábado, 18 de julho de 2009

Como Entender a Ira de Deus Contra o Povo de Amaleque?

Como entender a ira divina sobre o povo de Amaleque? Será que Deus se mostra aqui, em Êxodo 17.8-16, um Deus vingativo e irracional por decretar guerra contra um povo de geração em geração? Se este texto bíblico fosse interpretado dessa forma, esse modo de agir com Amaleque destoaria ou, até mesmo, estaria em oposição ao modo como Deus agiu em muitos outros momentos da história humana e, em especial, da história de Israel. Não é esse o modo de Deus agir no contexto bíblico. Mesmo considerando todo o povo de Amaleque culpado, veremos que Deus não fecharia a porta do perdão para um povo inteiro.
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Vejamos o modo de Deus agir em outros momentos para constatar isto: No caso de Adão e Eva, mesmo eles tendo traído a confiança do Senhor Deus, o Senhor veio ao seu encontro e os vestiu com vestes feitas de animais sacrificados. Essa atitude divina foi em si mesma já um gesto protetor e, além disso, lhes prometeu que da descendência da mulher viria um Salvador, para libertar a raça da situação decaída (mais tarde, na história bíblica, essa promessa se cumpriria com a redenção da cruz, feita pelo sacrifício do "Cordeiro" de Deus, Jesus Cristo). O ato de expulsá-los do jardim do Éden para que não comecem da árvore da vida e vivessem eternamente foi um ato de castigo, mas também de proteção. Se Deus não tivesse agido assim, o mal teria sido pior, pois seriam seres imortais e, contaminados pelo pecado, essa imortalidade seria uma maldição (seria como um pai, diante de uma maldade feita pelo filho, dar-lhe um prêmio). Portanto, o fato de Deus tirá-los do jardim também é um ato de benignidade, pois melhor do que uma pessoa bondosa é a que é benigna e bondosa, e Deus é benigno e bondoso.
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Outro exemplo é o de Caim: Deus foi benigno e bondoso com alguém que era culpado. Para começar, o Senhor tentou lhe dissuadir do intento de fratricídio antes de cometê-lo, lhe dirigindo a palavra. Após Caim matar Abel, Deus falou com Caim e tentou levá-lo a confissão e ao arrependimento, tentando recuperá-lo da impiedade e maldade em que estava preso. Caim, então, pediu clemência, perguntando a Deus se o seu crime era maior do que o crime imperdoável. Deus mostrou-se, então, bondoso com Caim, colocando-lhe um sinal para que Caim não fosse vingado pelos vingadores de Abel (seus filhos ou, até mesmo netos de Abel). De modo similar, em várias outras situações (em outros textos bíblicos) Deus não se mostra irredutível quanto a possibilidade de perdão e restauração do culpado.
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Um exemplo de que Deus não condena todas as pessoas que pertencem a um povo ou nação pela sua corrupção geral é as pessoas que se apartaram do Egito, não sofrendo o juízo sobre essa nação pelos seus terríveis crimes. Nesse acontecimento bíblico, a nação do Egito cometeu um crime punível diante de Deus de matar milhares e milhares de bebês, afogando-os no rio Nilo. Quando Deus começou a enviar as pragas sobre o Egito, não o fez de forma a só manifestar a sua justiça. Cada praga era uma manifestação do poder de Deus e uma oportunidade de os egípcios se darem conta que estavam diante do Deus que tinha domínio sobre toda a natureza, que era, enfim, o Deus criador, o Deus verdadeiro. Deus foi aumentando gradativamente a gravidade das pragas, chegando à sexta praga sem nenhuma pessoa morta (tendo somente, com elas, causado prejuízos materiais). Quando finalmente morreram algumas pessoas, com a praga da saraiva ou chuva de pedras e fogo (sétima praga), muitos egípcios, tendo recebido o aviso de que isso aconteceria, tiveram temor de Deus e, tendo já constatado que nas outras sete pragas tinha acontecido exatamente como Moisés tinha lhes advertido que aconteceria (veja o aviso que Deus dera a faraó, por intermédio de Moisés: "Agora, pois, envia, recolhe o teu gado, e tudo o que tens no campo; todo o homem e animal, que for achado no campo, e não for recolhido à casa, a saraiva cairá sobre eles, e morrerão", Êxodo 9.19), creram na palavra de Moisés e retiraram todos os seus animais e escravos do relento, de modo que não morreu nenhum animal.
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E, por fim, quando o povo de Israel saiu do Egito, a Bíblia nos informa que saiu um misto de gente (Êxodo 12.38), entendo que eram os Egípcios que se conscientizaram dos crimes que cometeu a sua nação (entre eles, o de explorar e oprimir a nação de Israel). Vemos, portanto, que Deus não puniu de forma desproporcional e sem misericórdia toda uma nação (o Egito), mas somente os egípcios que, endurecendo a cerviz, continuaram nos seus crimes e impiedades. Na Bíblia, também em outros momentos, há uma constante: em momentos em que Deus manifesta o seu juízo, Ele dá a conhecer também a sua misericórdia, tendo sempre algumas pessoas que acham escape e não são punidas, pois se emendam e se põem a salvo do juízo divino. Exemplo dessa realidade bíblica é na destruição de Jericó: em meio a destruição, uma prostituta se salva e se torna uma ilustre participante da genealogia da linhagem real, dos reis de Israel.
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E, quando toda uma cidade reconheceu os seus erros e tornou dos seus maus caminhos, Deus se mostrou perdoador. Isso é evidenciado pelo relato bíblico da história de Nínive, cidade acusada de cometer os piores e mais desumanos crimes e inimiga mortal do povo israelita, quando, diante da destruição iminente (ameaça do castigo e juízo divino), se humilha e pede o indulto de Deus, Ele se mostra disposto a perdoar, mesmo diante da má vontade do profeta Jonas (que pode representar a mágoa da nação de Israel para com os ninivitas, aos quais odiavam pelo fato de eles lhes terem causados muitos males).
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Aí vemos outra vez um Deus que não fecha a porta para o perdão e a possibilidade de não executar o seu juízo diante do arrependimento sincero, quer seja de uma pessoa (como é o caso de Caim), quer seja no caso de uma parte de uma nação (como é o caso dos egípcios), quer seja no caso de uma cidade inteira (como no caso dos ninivitas).
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Então, considerando todo o contexto bíblico, não é razoável entender que Deus estaria fechando a porta ou possibilidade de perdão para todo um povo (no caso dos amalequitas). O texto bíblico (versículo 8) nos informa que foi Amaleque quem tomou a iniciativa de guerrear contra Israel e é razoável entendermos que a guerra de geração em geração contra Amaleque seria somente enquanto Amaleque fosse Amaleque, ou seja, enquanto fosse uma nação agressora de um povo que não lhe tinha feito mal, no caso, Israel. Se Amaleque deixasse essa atitude já não seria chamado pelo nome "Amaleque", pois mudaria sua índole agressiva e injusta (vemos, em vários momentos bíblicos, que Deus muda o nome das pessoas que têm uma transformação e experiência com Ele – notemos o exemplo de Jacó, nome que significa enganador, teve o seu nome mudado para Israel, nome que significa aquele que luta com Deus, após ter tido um encontro com Deus).
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E, mesmo que Amaleque nunca deixasse de ser uma nação belicista e agressora e a guerra, a indignação e juízo divinos continuasse sobre Amaleque perpetuamente, isso não significa que os amalequitas que individualmente se emendassem diante de Deus e não continuassem nos seus crimes não achariam a benevolência e o indulto de Deus. Certamente que achariam lugar de salvação e perdão de Deus.
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Por outro lado, as pessoas que, mesmo pertencendo a uma nação teocrática (Israel), se opuseram ao povo de Deus, cometendo atrocidades, não foram poupadas da execução do juízo divino. Poderíamos citar vários exemplos que demonstram esse fato (como dessas pessoas Deus poderia exigir mais, por terem elas maior possibilidade de discernir o bem do mal, o juízo foi, certamente, mais severo. No entanto, quando se arrependeram das suas maldades, Deus suspendeu o juízo, mostrando sua clemência e bondade).
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Então, para se entender a história em Êxodo 17.8-16, deve-se considerar o espírito bíblico e buscar interpretá-lo buscando uma concordância prática com o restante da Bíblia.

Um comentário:

  1. MUITO BOM SEU COMENTARIO, DEUS CONTINUE TE DANDO SABEDORIA, PARABENS.

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