quinta-feira, 10 de maio de 2012

Comentário de Mateus 12. 1-8, Jesus e o Sábado



O Sábado e o Messias Rei e Sacerdote (Mateus 12. 1-8)

Os fariseus acusaram os discípulos de Jesus, perante o Mestre, de eles fazerem algo ilícito (conforme também Marcos 2. 23-24), ou seja, por colherem espigas no sábado, o que seria algo proíbido pela lei, pois quaisquer atividades laborativas eram proibidas no sábado (Números 15. 32-36). Até mesmo o ato de colher lenha no dia de sábado era proibido na Lei. 

Em resposta à acusação dos fariseus, Jesus citou dois exemplos do Antigo Testamento de exceção à guarda da lei, ou de quebra da lei:

1) O rei Davi e os seus homens também comeram os pães da proposição (1 Samuel 21. 6), o que não lhes era lícito fazer, em interpretação rígida da lei, pois esta dizia que cabia aos sacerdotes comê-los (Levítico 24. 9);
2) Os sacerdotes trabalhavam no dia de sábado (o evangelista Mateus registra este outro exemplo citado pelo Senhor, em Mateus 12. 5), ao servirem a Deus e ao povo no templo, pois o sábado era o dia em que os sacerdotes mais trabalhavam no templo, ao passo que o povo comum descansava neste dia.

De que forma estes dois exemplos poderiam servir para justificar os discípulos de Jesus por quebrarem a Lei de Deus - o Sábado? Como entendê-los? 

O simples fato de haverem exceções à lei levítica, como é o caso dos sacerdotes e o de Davi e seus homens, demonstra que, pelo menos alguns dos preceitos da lei, a exemplo da proibição de trabalhar no sábado ou de não comer os pães consagrados, não eram absolutos, pois foram criados originalmente para o bem do ser humano: "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado" (Marcos 2. 27). 


Deste modo, tais preceitos da lei poderiam ser relativisados em algumas circunstâncias em que houvesse necessidade tal, que justificasse a sua quebra.

Mas como o que eram apenas exceções à guarda da lei poderiam ser aplicadas ao caso de Jesus e de seus discípulos, a fim de justificá-los de terem quebrado o sábado?

No primeiro exemplo, Jesus está reinvindicando a posição de Rei, e seus discípulos seriam como seus fiéis soldados. Neste caso, sendo Davi uma figura do Messias, apontava para o Messias vindouro, o Filho de Davi (Mateus 1. 1), o qual teria prioridade sobre a lei, sendo o intérprete definitivo da lei, pois é o Filho do Homem, o Rei do Universo ("o Filho do homem até do sábado é Senhor", Marcos 2. 28).


No segundo, Jesus está afirmando ser o Sumo Sacerdote de uma nova ordem sacerdotal, e seus discípulos, sacerdotes, servindo a Deus nele próprio: "eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo" (conforme Mateus 12. 6). A ordem  sacerdotal de Melquisedeque (Gênesis 14. 18) é atribuída por Deus a Davi (Salmo 110. 4), e a Jesus Cristo, descendente de Davi (Hebreus 6.20). 

A Guarda do Sábado e a Igreja

Para os que pertencem à Nova Aliança (a Igreja), como se deve entender a lei da guarda do sábado? Devemos guardar o sábado, ainda hoje?

Em primeiro lugar, devemos nos perguntar se Deus planejou, para a Igreja, que houvessem duas classes de cristãos, como haviam duas classes de membros na nação de Israel: os que são servidores ou soldados próximos do Rei e que, portanto, podem quebrar a lei do sábado, pois estão a serviço do Rei Jesus, e os que são súditos comuns e que não podem quebrar o sábado? 


Deus intensiona que haja, na Igreja, os sacerdotes que servem a Deus juntamente com o Sumo Sacerdote celestial, Jesus Cristo, e que podem, por isso, quebrar o sábado e os que são apenas ministrados, ou servidos, por aqueles sacerdotes, não podendo quebrar o sábado? 


Se fosse assim, como saber quem se enquadraria em uma classe ou em outra, uma vez que os sacerdotes somente poderiam ser da tribo de Levi?
Poderia se pensar que os pastores e obreiros consagrados a Deus, durante toda a semana, tais quais os sacerdotes, ou os missionários em serviço contínuo a Deus, a semelhança dos soldados do rei Davi, poderiam quebrar o sábado, e os demais cristãos não. Por outro lado, os cristãos "comuns" poderiam trabalhar a semana toda e somente vir à igreja no sábado, aprender com os pastores e obreiros, como o resto do povo, e, além disto, não precisariam enfrentar as guerras espirituais, tais como os soldados do Rei enfrentam. Isto simplesmente não está na Bíblia! 


Com absoluta certeza, tal não é o que Deus pretende com a Igreja. O Novo Testamento é muito superior ao Antigo e faz de cada cristão um sacerdote e fiel soldado do Senhor Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote e Rei Eterno. Tal é o expressado pelo apóstolo Pedro, quando diz: "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido" (1 Pedro 2. 9), e por Paulo: "Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo" (2 Timóteo 2. 3).


Na Nova Aliança, já não é mais apenas um o que pode entrar no Santo dos Santos, o sumo Sacerdote, como na Antiga Aliança, mas todos os cristãos podem cumprir este ofício sacerdotal, posto não haja mais separação entre nós e o Santíssimo: "E rasgou-se ao meio o véu do templo" (Lucas 23. 45) e "Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne" (Hebreus 10. 19-20).


Assim, cada cristão pode entrar no Santo dos Santos, além do véu e oferecer o Cordeiro a Deus pelos nossos pecados. Todos somos responsáveis por levar aqueles que não conhecem a Deus a conhecê-lo. Todos somos responsáveis por fazer discípulos e ensiná-los. Todos também somos templo e morada de Deus e prestamos culto continuamente em nossos corações, mesmo durante as nossas atividades seculares, pois tudo o que fazemos fazemos como para o Senhor.


Deste modo, devemos nos perguntar: até que ponto eu estou cumprindo com o plano de Deus para minha vida? Sou consagrado a Deus como seu sacerdote e soldado durante toda a semana ou apenas vou a um templo no final de semana?


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