INTRODUÇÃO
A Bíblia ensina que o corpo de Jesus voltou à vida (assim é
crida e entendida a ressurreição de Cristo no meio evangélico), pois não
permaneceu entre os mortos; contrariamente a isto, as testemunhas de Jeová
ensinam que Jesus foi levantado como espírito glorioso.
Para o Corpo Governante das
Testemunhas de Jeová, Jesus teria sido apenas ressuscitado como espírito, pois
teria sido supostamente transformado num espírito glorioso no momento da sua
ressurreição. Entretanto, 1 Coríntios 15.4 expressa que qualquer crença ou
ensino sobre a ressurreição de Jesus deve ser “segundo as Escrituras”.
1) O NÃO-RECONHECIMENTO DO CRISTO RESSUSCITADO
O não-reconhecimento de Jesus pelos
seus discípulos nos aparecimentos do Cristo ressuscitado é utilizado pelo Corpo
Governante das testemunhas de Jeová como prova para negar a ressurreição
corporal de Jesus.
As passagens bíblicas utilizadas
para referir o não-reconhecimento de Jesus após a ressurreição e para a base
disto negar a ressurreição física de Cristo são as seguintes:
A) Os Dois Discípulos no Caminho de Emaús (Lucas 24)
Após a morte de Jesus, dois dos discípulos de Cristo, andando a caminho
da aldeia de Emaús, encontraram o Senhor Jesus ressuscitado e conversaram com
Ele, mas não o reconheceram. Tal fato seria supostamente uma prova de que Jesus
tinha uma aparência física distinta da que ele possuía antes da sua morte e
sepultamento.
O motivo que o texto bíblico nos dá
para o não reconhecimento de Jesus pelos dois discípulos no caminho de Emaús,
não é ter Jesus outro corpo diferente, mas em sentido oposto, para um obstáculo
nos olhos dos dois discípulos:
“Mas os olhos deles estavam como
que fechados, para que o não conhecessem” (v. 16). “Abriram-se-lhes então os
olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes” (v. 31).
Se Deus quisesse dar a entender que o não-reconhecimento decorria do
fato de o corpo de Jesus ser outro que não o de antes da morte,
posto no túmulo, seria uma hora conveniente para dar indícios
disto no texto, mas não há o mínimo sinal neste sentido no relato bíblico.
Muito pelo contrário, o texto fornece unicamente como motivo do não
reconhecimento uma obstrução dos olhos dos discípulos. Fazendo assim, o texto
bíblico inspirado demonstra intenção de afastar possível dúvida a respeito da
aparência física de Jesus: era o mesmo Jesus de Nazaré perfeitamente conhecido
pelos dois discípulos.
A dificuldade, ou impedimento, para o reconhecimento do Mestre
encontrava-se nos observadores (nos seus olhos), não no observado (o corpo de
Jesus). Portanto, a causa para o não reconhecimento estava nos dois discípulos,
não no Mestre ressuscitado!
Entretanto, alguns alegam que o texto está se referindo aos
olhos do entendimento dos discípulos, mas, ainda que fosse isto admitido, uma
coisa é certa: o texto não serve de prova categórica de que Jesus tinha outra
aparência após a ressurreição.
O caso do aparecimento de Jesus aos
dois discípulos de Emaús lembra a história do profeta Eliseu e dos soldados
sírios, pois ele orou para que Deus impedisse que os soldados da Síria o
reconhecessem, e em todo o percurso em que andou com aqueles soldados assim
ocorreu literalmente. Depois, Eliseu orou novamente ao Senhor para que os olhos
deles fossem abertos, e Deus fez com que eles o vissem outra vez, reconhecendo
eles o profeta (II Reis 6. 18-20). Deste modo, o problema também não estava na
aparência do profeta, mas nos olhos dos soldados, tal qual no relato dos dois
discípulos, no caminho com Jesus.
Portanto, o caso dos dois
discípulos no caminho de Emaús indica uma realidade oposta ao entendimento das
testemunhas de Jeová. A passagem bíblica aponta expressamente para o fato de
que o não reconhecimento do Mestre pelos discípulos, nesta ocasião, está
relacionado, não à suposta aparência distinta de Jesus após a sua ressurreição,
mas sim aos olhos dos discípulos. Além disto, este texto faz ver a
possibilidade de, nas outras ocasiões, em que também outros discípulos não
reconheceram o Mestre ressuscitado, isto ser também devido aos olhos dos
próprios discípulos.
B) O Aparecimento de Jesus a Maria Madalena (João 20)
O fato de Maria Madalena não ter reconhecido o Jesus ressuscitado
e tê-lo confundido com um hortelão provaria, segundo as testemunhas de Jeová, que Jesus apareceu em corpo distinto
do que tinha antes de morrer na cruz.
Entretanto, a confusão de Maria
Madalena pode ser explicada por diversas razões extraídas do próprio relato
bíblico do seu encontro com o Cristo ressuscitado:
a) É nos informado no texto bíblico, quatro vezes (vv. 11a
e 11b, 13, 15), que Maria estava chorando. Portanto, em todos os momentos os
seus olhos e rosto estavam banhados de lágrimas e estas contribuíram para que
Maria não reconhecesse Jesus. À semelhança do caso dos discípulos no caminho de
Emaús (Lucas 24: 16; 31), o obstáculo para o reconhecimento do Mestre estava
nos olhos de Maria (as suas lágrimas), e não no corpo de Jesus;
b) Maria “abaixou-se” para o túmulo, versículo 11, ao passo
que Jesus estava “em pé” atrás de si, versículo 14. Estes dois fatos (a postura
física de Jesus e a de Maria Madalena) podem ter influenciado, em conjunto com
os outros aspectos fornecidos no texto bíblico (o pranto de Maria, acima), para
o não reconhecimento de Jesus, num primeiro momento, pois isto pode ter
prejudicado sua visibilidade;
c) Quando Jesus apareceu atrás de si, Maria estava tendo
uma visão de anjos no interior do túmulo, a qual certamente a deixou muito impressionada,
dividindo sua atenção entre um homem (na sua mente, um possível
hortelão) que estava às suas costas e dois anjos, que estavam
diante de Maria. O mais lógico era Maria primeiramente dialogar com eles,
pedindo informações sobre o corpo do Mestre, os quais ela contemplara primeiro,
e que estavam dentro do túmulo, para apenas em seguida concentrar sua atenção
naquele que acabara de chegar, fora do sepulcro;
d) Os versículos 13 e 15 revelam o estado mental de Maria e
a sua expectativa em ver o corpo (o cadáver) de um mestre morto, que precisasse
ser carregado em seus braços. A visão do nazareno crucificado, morto e
sepultado estava ainda gravada indelevelmente na memória dela. Portanto, não
esperava de forma alguma ver Jesus com vida, em pé e falando com ela;
e) O versículo 15 revela que Maria tinha em mente a possível presença de
um hortelão (pessoa encarregada de cuidar de túmulos - certamente era do conhecimento geral a existência de pessoa com atribuição de guardar os túmulos e de cuidar da limpeza e conservação dos mesmos), o qual, segundo pensava,
tinha removido o corpo de Jesus. Portanto, Maria tinha a expectativa de vê-lo a
qualquer momento, para perguntar a ele sobre o corpo de Jesus.
Quando ouviu alguém falar com ela, por detrás de si, tinha para si que fosse
o responsável pelos sepulcros, que poderia lhe informar sobre o paradeiro do corpo;
f) A aparência de Jesus era a aparência normal de um judeu
de sua época (da sua própria etnia ou raça), passível, portanto, de ser ele
confundido, ao menos por um instante, em situação inusitada, como é o caso de
Maria Madalena, entretanto sendo em seguida, reconhecido, ao prestar ela maior
atenção aos seus traços característicos;
h) Na primeira frase que Jesus falou a ela, chamou-lhe de “mulher” (v.
15), na segunda, de “Maria” (v. 16). Deste modo, da segunda vez que Jesus falou
com ela, Maria naturalmente prestou mais atenção, pois percebeu não ser um
estranho falando com ela, mas alguém conhecido que lhe chamara pelo nome,
merecendo, portanto, maior atenção por parte dela;
i) O versículo 16 nos informa que
Maria, “voltando-se, disse-lhe”. Isto significa que, na primeira vez que o que
estava atrás de si se dirigiu a Maria, ela, embora tenha se voltado para o que
falava consigo, tornou novamente a prender sua atenção nos anjos. Portanto, num
primeiro momento olhou para Jesus (talvez, vendo-o apenas de perfil), mas não
fixou nele sua atenção; num segundo, quando o Senhor a chamou pelo nome,
voltou-se novamente para ele, olhou-o diretamente, com mais atenção, e viu-o de
modo mais propício a reconhecê-lo, reconhecendo-o perfeitamente;
j) Jesus disse: “não
me detenhas”. Isto demonstra que Jesus tinha um corpo físico, pois passível
de ser detido. Jesus explicou a razão para isto: “porque ainda não subi para
meu Pai”. Talvez deva se entender que, embora tenha Jesus ressuscitado, ainda
seu corpo estava em fraqueza e ele deveria ir ao Pai para ser glorificado (o
seu corpo iria ser revestido de imortalidade, de incorruptibilidade e de glória);
k) Finalmente, uma forte e conclusiva razão para Jesus não
ter aparecido a Maria em outra forma corpórea, que não a sua própria anterior à
crucificação (ou seja, ele apareceu a ela no mesmo corpo, pois ressuscitou
corporalmente dos mortos) é que, se Jesus tivesse aparecido com outra forma
física, Maria simplesmente não o teria reconhecido, ou teria ficado na dúvida;
mas, muito pelo contrário, não hesitou em chamar-lhe afetuosamente de “Mestre”
(v. 16) e em tentar agarrá-lo (v. 17).
C) O Aparecimento aos Discípulos no Mar da Galileia (João 21)
Jesus apareceu a um grupo de discípulos junto ao Mar da
Galileia, após pescarem toda uma noite sem apanhar nem sequer um peixe, mas os
discípulos, estando no barco, não reconheceram ao Senhor Jesus, na praia.
Nada indica, no texto bíblico, que o não-reconhecimento do
Mestre pelos discípulos se devesse ao fato de o Mestre ter outro corpo
diferente do que tinha antes da sua morte e sepultamento.
Pelo contrário, há possíveis razões para não o reconhecerem
de imediato, as quais estão registradas no texto bíblico:
a) Os discípulos tinham pescado a noite toda (v. 3),
estando, portanto, extenuados tanto física, como psicologicamente. Isto
certamente poderia contribuir para que não reconhecessem o Mestre, num primeiro
momento;
b) O texto bíblico não informa a que hora Jesus apareceu
aos discípulos, mas diz que estava amanhecendo (v. 4) e, portanto, poderia
muito bem ser relativamente um pouco escuro, pelo fato de o sol ainda não
ter nascido completamente;
c) O Senhor Jesus apareceu na praia, estando a mais de 100
metros de distância do barco onde os discípulos estavam, pois este estava
distante cerca de 200 côvados da praia (v. 8);
d) Embora Jesus estivesse com o mesmo corpo, este foi
revestido de imortalidade, incorruptibilidade e de glória, o que provavelmente
diferenciava significativamente a sua aparência daquela que tinha antes da sua
morte. Isto, porém, não pode servir de modo algum ao fim de negar sua
ressurreição corporal, porque inúmeros outros textos bíblicos apontam para este
fato (como exemplo, Lucas 24. 37-43; João 2. 18-22; Atos 2. 24-32);
e) Se Jesus estivesse em outro corpo, os discípulos
poderiam ter alguma dúvida sobre se era mesmo o Senhor, pois Jesus não se
identificou em momento algum como sendo o seu Mestre. Poderia estar ali um
anjo, algum profeta ou outro ser espiritual. No entanto, eles não tinham dúvida
nenhuma de que era o Senhor ressurreto; muito pelo contrário, o texto bíblico
expressa que eles “sabiam que era o
Senhor” (v. 12).
2) Jesus Oferece Provas Infalíveis da Ressurreição
A ressurreição corporal de Jesus é exposta, de modo
contundente, em diversas passagens do texto bíblico. Vejamos, a título de
exemplo, o episódio descrito no evangelho segundo escreveu Lucas, capítulo 24.
36-43:
36 E
falando eles destas coisas, o mesmo Jesus se apresentou no meio deles, e
disse-lhes: Paz seja convosco.
37 E
eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito.
38 E
ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos
aos vossos corações?
39
Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um
espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.
40
E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés.
41
E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados,
disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer?
42
Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel;
43 O
que ele tomou, e comeu diante deles.
Sendo o texto bíblico claro sobre o fato da ressurreição, é
isto suficiente para convencer as Testemunhas de Jeová do fato da ressurreição
corporal do Senhor Jesus?
Não, pois o Corpo Governante das
Testemunhas de Jeová, de uma maneira muito engenhosa, tenta negar o que é
evidente, afirmando que Jesus, embora fosse um espírito glorificado, teria se
materializado diante dos discípulos.
No entanto, uma análise cuidadosa do texto bíblico
demonstra, novamente, precisamente o oposto do ensino do Corpo Governante das
Testemunhas de Jeová. Observe os seguintes detalhes descritos no relato bíblico
acima transcrito:
a) Ao aparecer Jesus ressuscitado diante dos discípulos,
estes pensavam que se tratasse de um espírito (v. 37), e Jesus repreendeu-os
por terem tais pensamentos (v. 38), ao invés de encorajá-los a continuarem
pensando assim;
b) Jesus, para demovê-los do pensamento de que ele fosse um
mero espírito, argumentou-lhes que “um
espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (v. 39);
c) Para dar-lhes evidência que os convencessem da sua
ressurreição corporal, o Senhor Jesus lhes propôs que o apalpassem, ou seja,
que comprovassem com o sentido do tato a realidade do seu corpo físico (v. 39);
d) Jesus ordenou-lhes, ainda, que observassem os sinais dos
cravos em suas mãos e nos seus pés, ou seja, que fizessem uso do sentido da
visão para comprovarem ser ele o mesmo que fora crucificado, mas que agora
estava ali, vivo (v. 40);
e)
Como ainda estavam vacilantes em sua fé (v. 41), Jesus deu-lhes prova
adicional, comendo diante deles, para crerem no milagre da ressurreição (vv. 42
e 43).
e) Considerando as provas dadas por Jesus aos discípulos,
se ele fosse apenas um espírito materializado diante deles, estaria claramente
induzindo eles a que cressem havia ele ressuscitado corporalmente dos mortos,
quando isto não teria de fato ocorrido (segundo ensina o Corpo Governante).
Deste modo, estaria o Mestre enganando-os, o que seria contrário a todo o seu
próprio ensino e caráter, portanto isto é impossível.
O fato da ressurreição do corpo de Jesus (ou seja, a
vitória de Jesus sobre a morte) fica ainda mais evidente, ao examinarmos o
episódio que ele permitiu que Tomé o tocasse, para se certificar da
ressurreição do Mestre, no evangelho segundo escreveu o apóstolo João, capítulo
20:
25
Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes:
Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos
cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei.
26 E
oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé.
Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz
seja convosco.
27
Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua
mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente.
28 E
Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!
Na primeira vez, o próprio Jesus tomou iniciativa de
fornecer evidências de sua ressurreição aos discípulos para que cressem e,
agora, dá também a Tomé as mesmas provas das marcas dos pregos nas mãos e nos
pés e, como se não bastasse, deu uma prova adicional: a marca da lança que o
transpassou quando estava na cruz!
3) A Crença na
Ressurreição Após a Ascensão de Jesus
Se havia inicialmente alguma dúvida na mente dos discípulos sobre a
realidade da ressurreição corporal de Jesus, as evidências apresentadas por
Jesus foram mais fortes, dando aos apóstolos certeza absoluta deste fato: “Aos quais também, depois de ter padecido,
se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas” (Atos 1.3);
Corpo Natural Versus Corpo Espiritual
No Livro “Raciocínios à base das Escrituras” (página 218), das
Testemunhas de Jeová, é feita a seguinte pergunta: “Possui Jesus no céu seu
corpo carnal?”. Para passarem a negar, em seguida, a existência do corpo físico
de Jesus, usando 1 Coríntios 15: 42-50:
“Assim
também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção; ressuscita
na incorrupção ... Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Pois
assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito ser vivente. O último
Adão [Jesus Cristo, que foi humano perfeito assim como Adão era no início],
porém, é espírito vivificante.... Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue
não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção.”
No entanto, quando Paulo fala “corpo espiritual”, está
ensinando que o corpo que Jesus tem atualmente não é o seu corpo físico, com o
qual ressuscitou? Embora o sentido da palavra “espiritual”, no senso comum,
seja de algo oposto a material, a própria Bíblia deve determinar o sentido que
é atribuído a esta palavra, no versículo.
Neste contexto, “espiritual” é usado em contraposição a
“natural”, e não a físico. Então, “corpo espiritual” é usado para indicar que o
corpo da ressurreição não será na condição que possui na natureza atual,
perecível: ele não será frágil, sujeito à corrupção; será imortal e
incorruptível, porém material. Ou seja, o nosso corpo ressurreto não será
meramente físico ou meramente material, será mais do que isto: será
sobrenatural.
Além disto, de acordo com o próprio contexto bíblico “corpo
espiritual” não significa, necessariamente, corpo não-material. Na mesma
epístola do apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 10. 1-4, pode ser constatado outro
exemplo de que, quando o apóstolo faz uso do adjetivo “espiritual”, este não
tem o significado de não-material:
“Ora, irmãos, não quero que ignoreis que
nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar. E
todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar, e todos comeram de uma
mesma comida espiritual, e beberam todos de uma mesma bebida espiritual.”
Não há dúvida que a comida que o povo de Israel comeu no
deserto (o maná que eles recolhiam e preparavam no fogo, Êxodo 16. 14-24) era
material, e não há dúvida de que a água que bebiam era também física (Números
20. 8). No entanto, Paulo chama o maná de “comida espiritual” e a água de
“bebida espiritual”.
Na expressão de Paulo, então, pode algo ser “espiritual” e,
ao mesmo tempo, ser material, ou físico.
O que a Bíblia quer dizer, então, por “espiritual”? Que
Deus operava de modo sobrenatural, milagroso, fazendo a água sair da rocha, e o
maná cair do céu. No mesmo sentido em relação ao corpo ressurreto de Jesus: ele
tem em si o poder sobrenatural de Deus, pois a sua ressurreição foi em incorruptibilidade
e imortalidade.
Carne e Sangue Não
Podem Herdar a Incorrupção
Qual o sentido da afirmação de que “a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção
herdar a incorrupção”? Significa que meros corpos mortais, adaptados apenas
à vida terrena, não podem entrar no Céu, sem antes passarem por uma
transformação operada pelo Espírito de Deus:
“... nós seremos transformados. Porque
convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto
que é mortal se revista da imortalidade” (1 Coríntios 15. 53). “E, se o Espírito
daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que
dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos
mortais, pelo seu Espírito que em vós habita” (Romanos 8.11).
Na transformação e no ato de revestir, os elementos do ser
transformado ou revestido continuam na nova forma assumida, não são eliminados,
mas absorvidos e envolvidos por algo (no caso, pela incorruptibilidade e pela
imortalidade).
Deste modo, o corpo de Jesus sofreu um processo de
transformação e foi revestido de imortalidade e de incorruptibilidade, para
estar adaptado ao ambiente celestial, assim como acontecerá também com nossos
corpos, no dia da Ressurreição.
Paulo, inspirado pelo Espírito de Deus, usa uma ilustração
da natureza, adequada para explicar como será a ressurreição dos mortos, em 1
Coríntios 15. 35-38:
“Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os
mortos? E com que corpo virão? Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se
primeiro não morrer. E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer,
mas o simples grão, como de trigo, ou de outra qualquer semente. Mas Deus
dá-lhe o corpo como quer, e a cada semente o seu próprio corpo”.
No caso da semente que é semeada, não há uma eliminação da
semente, pois a semente entra na constituição da nova planta. Há uma
transformação ou uma mudança da forma de um ser e não a eliminação de um ser, e
o surgimento de outro.
Outro exemplo que poderia ser utilizado, também da
natureza, é o da transformação da lagarta em borboleta, pois o ser da lagarta,
embora seja sem beleza em sua forma original, é transformado em uma bela
mariposa. No entanto, os elementos constitutivos da lagarta entram na
composição do novo e lindo ser, a borboleta.
O Que Significa
Jesus Ser “Espírito Vivificante”?
O apóstolo Paulo ensina que “O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em
espírito vivificante” (1 Coríntios 15. 45).
O que isto significa? Embora o versículo seja de difícil
interpretação, a expressão deve ser interpretada em harmonia com as demais
Escrituras. Não significa, com certeza, que Jesus não ressuscitou corporalmente
dos mortos, pois, como visto acima, as outras passagens bíblicas ensinam a ressurreição
corporal de Cristo.
Pode significar simplesmente que o primeiro Adão tinha um
corpo “natural” adaptado para viver na terra e que Jesus, o segundo Adão, tem
um corpo (espiritual – não significando imaterial, como já dito) adaptado para
viver no Céu, como o apóstolo Paulo ensina nas passagens acima transcritas.
Isto é o que parece estar também expresso em Filipenses 3.
20-21: “Mas a nossa cidade está nos céus,
de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o
nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu
eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”.
Além disto, como temos em Adão a nossa origem natural e
terrena (desta Criação), teremos a origem do nosso corpo glorificado e
transformado em Jesus (a nova Criação), “o
primogênito dentre os mortos”, ou as “primícias
dos que dormem” (Apocalipse 1.5; 1 Coríntios 15.20, respectivamente), pois
é Jesus quem garante a nossa ressurreição (1 Coríntios 15. 21-22), assim como
Adão garantiu a nossa existência meramente física.
Neste sentido, portanto, o Senhor Jesus é o nosso
Vivificador, pois nos ressuscitará pelos seus méritos e poder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário